Mas que quiz Freak-o-deles.
por Gabriel Alves
Quem como eu já viu muito jogo da bola e, ocasionalmente, algum futebol não pode deixar de ficar surpreendido com os
paralelismos entre a arte do esférico, o quiz e do quanto tudo isto
está longe de ser uma ciência exacta. Por isso, na antecipação do quiz
Frikadaéllico, tinha em mente uma mistura entre rigor nórdico e irreverência, a
procura de um espaço para brilhar e o poder de surpreender, uma espécie de quiz
a la Brian Laudrup ou talvez até uma Victoria Silvstedt.
O resultado final, infelizmente, não foi por aí como avanço nos meus cinco pontos:
1º Um
quiz uns bons sete palmos debaixo de terra – Nunca a
táctica da cascata temática em pressing ao longo do jogo foi usada de forma tão
arrojada. Não só a turma dos Frikadaellos optou por um tema que não era transversal à sala (o universo do Metro), como o levou do primeiro ao terceiro nível,
quando por norma a experiência recomenda que as invenções fiquem pela primeira
fase. Além do mais, a táctica revelou-se inconsistente e pouco ponderada,
porque se a uns calhavam estações a outros calhavam citações, pelo meio de
personalidades mortas ou forcas do Metro que, uma vez mais, resultaram numa
clara dispersão e pouco entretenimento. Cultura Underground é um bonito trocadilho sim
senhor, mas a viabilidade do mesmo teve o ritmo e alegria de uma qualquer casa funerária.
2º A
vantagem da finta curta, face à condecoração lenta – Sejam
16, 14, 10 ou 6 equipas em jogo, perguntas com mais de três linhas nunca são
augúrio de clareza e simplicidade, mesmo com projecção. Se a isso se juntar o
entusiasmo que geram comendas e confrarias, temos um autocarro estacionado à
frente da motivação. Uma vez mais, algo que teria passado por baixo do radar se
não tivesse sido utilizado à condição de tema mas, em vez disso, duas ou três
perguntas pelo meio. É o chamado falso rápido, um tema que se enche num
instante, mas que demora muito tempo a ser digerido pela audiência.
3º Que
nunca se espere ouvir um silêncio ensurdecedor no Quiz – O público da cascata é mexido, buliçoso, gosta de agitação, bifanas e da
jinga do copo a bom preço. Como tal, da parte da organização espera-se
endurance, capacidade de flanqueamento auditivo e comunicação com todos os
sectores. É essa a razão porque nem todos os membros de uma dada equipa se
adequam às funções de skipper do microfone, a bem de um jogo fluído, menos
granel e mais horas de sono. A título de recomendação, que se ponham os
organizadores a precisar de rodagem num terceiro nível, em que o número de
equipas é mais reduzido. No palco de Fevereiro, um certo empastelamento na
condução do jogo contribuiu para a sensação de um quiz pesado, apesar de nunca
ter faltado leveza na boa disposição.
4º Uma
tentativa de não tentar jogar aberto – Um quiz
“difícil” não tem que ver apenas com a escolha de temas ou com a condução do
jogo. Tem a ver com a forma como o mesmo é estruturado do ponto de vista do
organizador em relação a quem joga. A meu ver, os Frikadaellos não nivelaram o
quiz pela audiência mas sim pelas suas próprias expectativas, algo que se pode
dever a alguma inexperiência ou ao desejo inconsciente que muitos organizadores
têm de “Finalmente vou poder ver num quiz coisas que eu gosto e raramente
vejo”. A dificuldade média foi elevada o que, a juntar aos temas, complicou o
sistema. Face ao segundo nível, o terceiro acabou por parecer acessível, coisa
que por norma não se verifica na lógica de pirâmide que o jogo tem.
5º A
simplicidade do quiz como arte plástica –
Passa por não complicar, por não achar que um quiz não é sério se for acessível.
É uma experiência organizativa diferente de, por exemplo, um quiz de bar onde a
vertente lúdica é ainda mais forte, mas a cascata não tem que ser um poço. No
entanto, há diferenças entre um quiz exigente e um quiz impraticável e tudo
começa na simplificação. A parte escrita era engraçada, mas a forma de a
pontuar era complexa e exigente. Os temas não foram uma boa aposta, mas mais
perdoáveis se tivessem ficado pelo primeiro nível. As perguntas podem sempre
ser simplificadas na sua estrutura e a organização organizar-se para
proporcionar um espectáculo bonito, moderno, arejado.
Quiz é quiz e vice versa e, como tal, a
imprevisibilidade faz parte do jogo. Esperemos que em Março essa
imprevisibilidade seja mais pelo lado positivo e que na próxima vez que os
Frikadaellos subam aos relvados organizativos levem memória da última exibição
e mostrem mais de Brian Laudrup e menos de Martin Pringle. Até breve, sempre em
superavit.
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