segunda-feira, 26 de abril de 2010

Crónica do Jogo de Abril - Organização BMV c/ Laranja




Já se sabia de antemão, iria ser um quiz de autor. E, numa sexta-feira cascateira onde não faltaram sequer os tradicionais momentos de chuva, voltaram a comprovar-se as venturas e desventuras deste tipo de quiz. Provou-se também que os vulcões islandeses não facilitam as ligações aéreas para os praticantes internacionais de quiz de cascata.
Traço geral, salvo breves momentos, o quiz dos BMV c/ Laranja e, mais propriamente, do Nuno Vitoriano, foi calmo, com uma condução atempada e sem grande granel. Teve emoção até ao fim, com uma recuperação épica a cargo dos Mamedes, que fizeram do 3º nível uma rampa de lançamento para uma vitória que poucos poderiam prever no final do 2º nível. No entanto, pecou nalguns aspectos por ser aquilo que disse no início – um quiz de autor. E, quando assim é, há um grau de dificuldade bem maior ao estruturá-lo.

Como de costume, vamos por partes.


Il y a du bon pain, de la viande et d’une part écrit



Com duas equipas ausentes, Irmandade e Power2U, a parte escrita não levantou grande celeuma, apesar de divergir do formato mais básico 10 perguntas = 1 ponto cada resposta certa, sem acertos. Embora apenas alguns pelintras menos patriotas possam ter tido dificuldades em distinguir insígnias militares, malvadez só mesmo pedir os nomes em francês dos personagens do “Era uma vez o Homem”.
Os Lais da Carangueija saíram na frente, com uns promissores 8 pontos. No pelotão o equilíbrio era a nota dominante, com as pontuações a oscilarem entre os 3 e os seis pontos.


Os perigos do equilíbrio




Às 23.30 começava o nível um, com os principais favoritos a tentarem garantir um bom arranque e outras equipas a tentar dar novo alento à sua época. As primeiras perguntas mostraram que este iria ser um primeiro nível acessível, mas a distribuição da dificuldade pelos temas que foram saindo tornou a coisa menos uniforme. E, quando um nível é desenhado para ser acessível, quem não acerta quatro directas tem a vida muito dificultada para passar de nível, sendo os Golfinhos os únicos a passar com apenas três directas. Enquanto algumas equipas se banqueteavam com cascatas, beneficiando do seu à vontade nalguns temas e posicionamento geo estratégico, noutros casos a sobrevivência era difícil.
Na frente, os Ursinho levavam a dianteira, seguidos por uns Indomáveis a um nível ainda não visto esta época e por uns Fónix a precisar de acelerar o ritmo para manterem o seu estatuto de campeões. Do lado oposto, NNAPED, Feios Porcos e Maus e Freakadellos eram vítimas iniciais, assim como os Valentejanus, que não deram seguimento à final do mês passado, os Defenestrados e os Lais, que podem ter contribuído para alimentar o mito de que a equipa que melhor se safa na parte escrita é uma séria candidata à eliminação no primeiro nível.




Os mistérios de Sean Connery




Embora o primeiro nome de Sean Connery permaneça ainda um mistério para muitos, o segundo nível do jogo dos BMV c/ Laranja não constituiu propriamente uma surpresa. Em termos de temas, a matriz do Nuno revelou algum foco específico em determinadas áreas, sendo o problema a apontar aquele que já foi definido – o isolamento que define um quiz de autor. A amplitude temática não só, por norma, é mais reduzida, como a capacidade de nivelar a dificuldade aumenta exponencialmente. E se, traço geral, o segundo nível não foi dos mais exigentes que já assistimos esta época, com apenas sete perguntas a darem a volta à sala, o facto de termos apenas uma equipa acima dos 50% de directas, mais precisamente os Cavaleiros (que fizeram aqui grande parte do seu jogo, em termos pontuação), aponta para algum desnível, com as cascatas a serem repartidas maioritariamente entre os favoritos.

Folie à Cinq e Golfinhos passaram quase ao lado deste nível e a Unidade 101 desta vez não conseguiu esticar a sua prestação até à fase final. Na frente, os Ursinho tinham agora a companhia dos Cavaleiros, graças ao nível épico destes últimos, ao passo que os Indomáveis perdiam claramente o fôlego do primeiro nível, mas garantiam ainda a passagem à final. Os Espertalhos, apesar de um início de segundo nível com algum fulgor, limitavam-se a cumprir serviços mínimos e a assegurar lugar na final.

A emoção estava no entanto reservada para o desempate para apurar o último finalista. De um lado os Zbroing, vencedores na última jornada, do outro os Mamedes, que corriam o risco de ficar fora da final dois meses consecutivos. Depois de muitos truques ninja, só no desempate dos desempates a sorte sorriu aos Mamedes, deixando os campeões de Março nas boxes.



Vangelis, dá aí uns acordes pá




Os dados estavam lançados para um terceiro nível que, tal como o Vitoriano tinha prometido, foi difícil, tornando-o num daqueles níveis mais a puxar para o quatro. Tirando para uma equipa. 20 em 36 perguntas deram a volta à sala, três equipas tiveram nenhuma ou uma resposta correcta neste nível e a complexidade de algumas respostas múltiplas desencorajavam até a tentativa de resposta.
Portanto, pouco ou nada mudou na fase final, certo?

Errado. Com 11 pontos no terceiro nível, incluindo 3 directas, os Mamedes foram imparáveis e subiram a pulso do 6º ao 1º lugar, para uma vitória sem contestação. Os Fónix também fizeram um forcing para o segundo lugar, deixando para os Ursinho o lugar final do pódio. Os Cavaleiros, em branco na fase final mantêm a liderança no campeonato, ao passo que os Espertalhos não descolam dos perseguidores, com o seu quinto lugar. Os Indomáveis fecharam os finalistas, com uma prestação que lhes pode dar outro alento para as próximas jornadas.

Ainda a horas respeitáveis para a cascata, o quiz dos BMV c/ Laranja, conduzido tranquilamente pelo Nuno Victoriano, acaba por não ter grandes polémicas, mas também não garante acesso ao Olimpo dos quizzes de cascata. O serão avançou sem problemas e o resultado final não é negativo, mas deixa-nos a pensar se um quiz “global” da equipa não teria um brilho maior, dadas as capacidades e experiência que este colectivo tem. Não sendo possível, fica a versão de autor, as vantagens e desvantagens que por norma se acaba sempre por referir.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

Antevisão do Quiz de 6a com Nuno Vitoriano dos BMV c/ Laranja

"Isto é a ditadura instituída, fui eu que fiz o jogo todo"



Homem frontal, já com muitas milhas de quiz acumuladas, Nuno Vitoriano, dos BMV c/ Laranja acedeu gentilmente a trocar algumas palavras com este pasquim, em género de antevisão do quiz que a sua equipa organizará na próxima sexta feira. Percebemos que, traço geral, será um quiz de autor, mas que se espera abrangente dentro das áreas de interesse do mesmo. Eis a entrevista:

- Depois de terem começado com uma final, os BMV c/ laranja não chegaram ao último nível nas duas últimas jornadas. O problema foram os jogos ou a equipa ainda está a aquecer motores? Estão a contar com o sucesso da vossa organização como rampa de lançamento da equipa no resto da época?

Eh pá, o problema foram as 4 directas que deram a volta à sala e o azar "el azar" que nos persegue constantemente. Somos claramente o Martim Moniz do campeonato.

- Sabendo que as organizações se vão dividindo entre a facção BMV e a facção Laranja, sendo esta última a responsável este ano, não os vais deixar sequer fazer umas perguntinhas? O que recomendarias a equipas mais jovens à laia de futurismo em relação ao jogo de sexta?

Népia, isto é a ditadura instituída, fiz o jogo todo. As equipas mais jovens serão mais velhas na edição 20 do campeonato em 2025. Aí já não terei de recomendar nada. No geral reciclem-se como puderem.

- Falam-nos de geografia aos montes, de política em quantidades industriais, de vasculhar ao pormenor os cantinhos da História. Sem estragar o mood, que tipo de surpresas Kinder poderemos encontrar dentro do quiz?

O jogo não tem uma sobrecarga de perguntas desses temas; Desporto, cinema, música e história irão aparecer em quantidades qb.

"Não vou mamar os tradicionais oito ou nove Famous... Mas não levem a mal se o terceiro nível for mesmo difícil"


- Na sequência das organizações que foram acontecendo esta época, o que vai diferenciar o vosso quiz dos demais. Como planeias blindá-lo das polémicas tradicionais?

Há sempre polémicas. Mas como tenho um teste na manhã seguinte este ano não vou mamar os tradicionais 8 ou 9 Famous.

- Finalmente, como é que a vitória de Passos Coelho vai influenciar a feitura do quiz de 6a feira? Poderemos vir a encontrar aventais de plástico de oferta nas mesas?

A única influência do PSD neste jogo é que me tirou algum tempo para fazê-lo com mais calma. Os aventais de plástico já caíram em desuso há algum tempo.

Espero que gostem do jogo e que não levem a mal se o 3º nível for mesmo difícil.



Sabendo-se que a ponta final do quiz será puxada, sabemos também que a evolução há muito que também já chegou aos brindes partidários. Esperemos que sexta feira tudo corra pelo melhor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Pseudo Guia de Bolso de Recomendações para Quiz de cascata

A uma semana da jornada de Abril, na sua contínua luta pouco titânica por um quiz de cascata com futuro, este blog resolveu fazer uma breve introdução ao que podem ser dicas porreiras para a elaboração de um quiz de cascata que não fique a roçar o infame.

Depois das primeiras jornadas deste ano recolhemos mais alguns apontamentos sobre o que pode ser evitado e/ou melhorado mas, como este é um esforço colaborativo, este espaço continuará aberto ao debate na caixa de comentários para ver se, além de piadas de craveira e trocadilhos de encomenda, surgem figuras e anónimos de renome dispostos a dar as suas pérolas de sabedoria.



Comecemos inovadoramente pelo início:

Timing
Um quiz de cascata não é um quiz de bar típico. Não só tem quatro vezes mais perguntas (mais precisamente, para uma cascata de 18 equipas, 204 perguntas divididas por três níveis de dificuldade, mais parte escrita), como tem factores extra a influenciar como apresentação, granel, etc. Preparar a maior parte do mesmo apenas na semana do quiz, até para equipas experientes, pode tirar-lhe qualidade. As metodologias podem variar, mas ir aquecendo motores ao longo do mês a que esse quiz diz respeito é capaz de ser boa ideia, deixando a última semana para afinações e ajustes.

Volume de Perguntas
Epá, são precisas 200 perguntas? Então vou juntar mais de 1200 nos meses que o antecedem e depois escolhemos. Embora este possa ser um factor mais associado a equipas inexperientes, a verdade é que quantidade não é qualidade. Menos perguntas, melhor distribuídas por temas é uma solução mais ajustada. Tal não implica que não se devam ter perguntas a mais (contando substituições e tudo), mas aumenta o filtro de qualidade na apreciação prévia das mesmas.

Formulação das perguntas
A cascata não é um encontro de declamadores, uma convenção de adeptos saudosistas do 1,2,3. São duas horas e tal (com sorte) de perguntas e respostas, barulho e álcool a preços módicos. Como tal, formular a pergunta de uma maneira curta, concisa e que não dê margem a respostas interpretativas ou multiplicidade de respostas válidas muito alargada é uma boa medida e protege o apresentador de potenciais investidores.

Validação das respostas
Aí impera a lei do bom senso. Mesmo tendo a certeza absoluta das respostas, o organizador pode encetar diálogo com uma plateia em protesto. Se o fizer e ceder, a partir daí terá aberto um precedente e será tido quer como um comunicador quer como um frouxo. Se imperar a regra, o que conta é o que está no cartão, será um déspota com pouco sentido de humildade. Se optar pelas duas, não terá amigos em lado nenhum.



Estilo de jogo
Se em relação à parte escrita, é mais ou menos convencionado (mesmo que não praticado) que esta deve ser um aquecimento de 10 perguntas = 1 ponto cada, existem depois duas correntes cascatistas. Uns defendem um nível 1 mais puxado, de modo a começar já a fazer uma selecção e reduzir os perigos da aleatoriedade, outros defendem um nível 1 acessível, com pontuações elevadas e muita imprevisibilidade. Ambos têm a sua validade, mas têm também os seus riscos.
Um nível 1 muito acessível, sem a estruturação adequada da dificuldade e da distribuição de perguntas pode torná-lo um calvário para certas equipas e um paraíso para outras, sem que isso tenha propriamente que ver com o álcool ingerido pelos seus membros. Além disso, para além desse efeito montanha-russa, ao passar para o nível 2 poderá haver uma mudança abrupta de dificuldade, em vez de uma evolução gradual.
Um nível 1 mais selectivo, tendo também em conta a distribuição de dificuldade, terá que ter uma dificuldade ponderada para não criar fossos tão grandes entre equipas que torne o nível 2 um calvário e esteja tudo mais que decidido à entrada do nível 5 (a versão do três em muitos jogos).
A escolha de um estilo de jogo, no meu modesto entender, terá sempre que ver com a diversão que proporciona a organizadores vs equipas concorrentes, pelo que é possível fazer um bom quiz de ambas as formas, desde que sejam tidas em conta as particularidades de cada um.

Nível 3
Um nível 3 não deveria ser um nível em que só uma/duas pessoas saiba a resposta a uma dada pergunta. Confundir dificuldade com inacessibilidade é um mal geral. Por norma, cerca de 50% das perguntas neste nível dão a volta à sala. Sendo esta a fase final, em que a emoção deveria estar ao rubro, muitas vezes fica tudo como já estava no 2º nível, especialmente se houverem lideranças destacadas.
Este deveria ser um nível 2+ e não um nível 5. Embora a dificuldade deva subir a partir do nível anterior, uma boa distribuição temática e a possibilidade da equipa pelo menos poder tentar responder ajudam a torná-lo mais competitivo e agradável.

Estruturação da dificuldade / Distribuição temática
Os Zbroing, equipa sempre avançada em matéria tecnológica, possuem uma matriz que lhes permite tentar distribuir a dificuldade não só entre níveis, como entre equipas. No entanto, mesmo de forma mais artesanal, é possível fazer uma estruturação simpática.
Basta começar por fazer um quadro distribuindo as perguntas por mesas. Se é certo que não sabemos quem se vai sentar onde, sabemos sempre que há x equipas no nível 1, 10 no nível 2 e 6 no nível 3. Tendo isto em conta, é preferível ver logo que seis perguntas, de acordo com a distribuição por ronda (se houver distribuição temática melhor), calharão a cada mesa. Não só se detectam mais facilmente quais as mesas a precisar de alteração/nivelação das perguntas, como também se pode ver que se calhar fazer cinco perguntas com citações a uma mesma equipa (ainda que de temas diferentes) pode não ser positivo.

Ter folhas isoladas com perguntas divididas por temas ou cascatas sem nivelação prévia aumenta o risco de granel, embora cascateiros mais experientes possam minorar esses efeitos.

Perguntas feitas em relação a uma área que dominamos (profissionalmente ou whatever) devem ser sempre revistas por alguém da equipa que seja mais alheio ao tema. A qualidade da mesma não está em causa, mas sim o seu grau de dificuldade. O que para mim é simples, para os outros 4/5 da equipa pode ser de nível épico. Basta às vezes a alteração da formulação ou do nível em que está enquadrada para resolver o assunto.

Em relação à distribuição temática, como é óbvio, cada equipa é livre de abordar os temas que lhe apetecer. Um tipo pode até ser jardineiro e gostar de meter lá uma ou duas perguntas sobre adubos. Mas, vistas as coisas, uma cascata de jardinagem, mais 10 questões sobre flores da Polinésia e outras 10 sobre técnicas para aparar arbustos pode enviesar a coisa.
É possível fazer um óptimo quiz, com um cunho próprio da equipa que o elabora. Mas desde que se equilibre esse gosto pessoal com a forma como a área a que concerne é valorizada pela plateia. Um fã de cinema poderá fazer 20 questões sobre a matéria sem qualquer problema, diversificando-as e mantendo-as interessantes. Um fã de curling terá mais dificuldade em conseguir fazer passar a sua mensagem, sem que isso implique que não possa ter lá alguns apontamentos.



Apresentadores e organização
Nem toda a gente tem o mesmo à vontade. Um quiz de cascata exige o despertar do Júlio Isidro que habita dentro de cada um de nós. Caso ele não acorde, talvez não seja boa ideia forçar. Quando é para distribuir o mal pelas aldeias, tudo bem, já que não é necessário existirem mártires ao microfone. Mas, quando há alguém com mic skills em dada equipa, a sugestão é aproveitá-lo pois tornará o serão mais agradável e o decorrer do jogo mais fluído. Por mic skills não se entende Fernando Rocha.


Estes apontamentos não pretendem ser mais do que isso – apontamentos. Abertos a sugestões, debate e pouco vinculativos do que quer que seja. Também ninguém quer uma porrada de quizzes sem polémica, ordeiros e muito bem feitos o ano inteiro. Senão depois vimos para aqui reclamar do quê?