segunda-feira, 31 de agosto de 2009

AGORA FALO EU

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Directamente da Inglaterra, um dos nossos repórteres especiais (que são todos) fez uma "reportagem" que merece a nossa atenção. Frederico D.C., elemento dos Fónix estará ausente da jornada de Setembro (à atenção dos principais adversários) mas isso não quer dizer que estivesse por fora deste nosso desporto. Redigiu uma Magna Carta que passo a publicar:






Caros companheiros de “quizices”

Escrevo desde a velha Albion, terra de cultura e origem de muitos desportos, entre os quais este que tanto apreciamos. Tive a oportunidade de ir a alguns “pubs” jogar o Quiz local e comprovei que, a par das noites de Karaoke, é um dos divertimentos de referência em muitos deles. Alguns, até têm sessões de Quiz duas vezes por semana num ambiente tipicamente britânico. (foto ao lado)

Ao longo das várias noites pude reparar nos pequenos detalhes que fazem a grande diferença em relação aos nossos “quizzes”. Se houver semelhanças no que irei apontar ou alguma explicação para que em Portugal não se jogue assim, peço desculpa por não estar devidamente informado, mas como referência comparativa baseio-me no modelo do Quiz da Boa-Hora – e sem qualquer intenção crítica em relação ao excelente trabalho do João Silva, mas apenas como registo para eventuais discussões ou ideias para as nossas noites de “quizices”.

Comecemos pelas folhas de registo das respostas. Há um modelo comum que serve de base em todos os Quiz. Os “quizmasters” – traduzido como “o gajo que faz as perguntas” – pode entregar uma folha especialmente concebida para o registo das respostas que foi comprada através de uma loja especializada na Internet (http://www.redtoothquiz.co.uk/) – Ah pois! Isto é para profissionais, não para meninos! O profissionalismo da folha é tal que até há um anexo para cópia das respostas a papel químico. Os outros modelos podem ser as normais folhas com grelhas, elaboradas em casa pelo “quizmaster”, mas seguindo as indicações do modelo profissional – podendo haver a liberdade de alterar o número de perguntas. Por fim, como também vi, uma simples folha em branco, retirada de um qualquer caderno escolar com linhas, é o suficiente…

As perguntas obedecem a temas e critérios que as folhas de registo de resposta compradas na loja da Internet apresentam como guia de orientação. Isto poupa imenso trabalho a quem tem de pensar os níveis das perguntas e garante uma diversidade de temas e equilíbrio de dificuldade que beneficia em muito o interesse de quem joga.

Em geral, são 55 perguntas, embora possa haver variações consoante o gosto do “quizmaster”. Num jogo padrão, há cinco grupos de 10 perguntas cada e um grupo de cinco perguntas. Neste último caso, temos uma “guilhotina”, onde são feitas quatro perguntas e cujas respostas correctas (se as conseguirem adivinhar) constituem pistas para a palavra final, a quinta resposta deste grupo. Esta última palavra não vale mais ou menos pontos do que as respostas anteriores. Se acertaram na palavra final, mas falharam as quatro respostas anteriores, só conta como ponto a única resposta certa. Logo, se adivinharam a última palavra da “guilhotina” apesar de terem falhado todas as anteriores, recebem apenas o ponto referente a essa última resposta correcta. Se falharam uma resposta no grupo das quatro perguntas, mas ainda assim conseguiram acertar na palavra final, ficam apenas com quatro pontos. Concluindo: adivinhar apenas a palavra da “guilhotina” não dá direito aos cinco pontos em jogo. Simples.


Os temas.

Primeiro, há um grupo que pede para identificarmos 10 figuras ou preenchermos anagramas. É o equivalente a uma prova escrita. Segue-se um segundo grupo com 10 perguntas sobre a actualidade da semana, onde pode ser pedido, por exemplo, o nome do médico de Michael Jackson ou a marca que anunciara recentemente o abandono da F1. Segue-se o “Top 5”, ou seja, dois grupos de cinco elementos comuns, como, por exemplo, escrever o nome de cinco países terminados com a letra “L” e o nome dos personagens das aventuras dos “Cinco” - sim, fizeram mesmo essa pergunta...

O quarto grupo é constituído de 10 perguntas de cultura geral onde se pode perguntar tudo, desde as jogadas de Críquete, datas de invenções, batalhas históricas, etc… Mas, nesta fase há uma pequena peculiaridade assaz interessante para o jogo: a última letra da resposta anterior será sempre coincidente com a primeira letra da resposta seguinte e cada resposta é constituída apenas uma única palavra. Por fim, depois da já mencionada “guilhotina”, vem o nível “Wipe Out”, ou seja, todas as respostas têm de estar correctas. Basta haver uma incorrecta para perdermos todos os pontos deste grupo. Se não tivermos a certeza absoluta, mais vale deixar a resposta em branco. Contudo, se acertarmos nas 10 respostas, recebemos cinco pontos de bónus. Isso faz com que, no total de um Quiz que inclua este último modelo, estejam 60 pontos em jogo. (foto ao lado)

A correcção das respostas.

Este acto, ao contrário do que acontece nos nossos jogos, não sobrecarrega o desgraçado do “quizmaster”, que vai para um cantinho solitário corrigir, uma por uma, as folhas de todos os participantes, somar com atenção para ver se não engana ninguém, tentar descortinar a ortografia e ainda aguentar com os que querem fazer críticas ao jogo. Tudo isso, enquanto o resto da malta fica ali a conversar ou a olhar para o relógio que já se faz tarde.
Não!
A coisa funciona de forma bem mais expedita e descansada para o “quizmaster”, que fica sentadinho a beber umas cervejas enquanto debita no microfone as respostas correctas, porque quem vai estar a corrigir tudo são os jogadores. Estranho? Nem por isso, visto que os jogadores não corrigem os seus próprios registos de respostas. A honestidade desportiva, mesmo sendo ingleses, não chega a tanto… Acontece que cada equipa troca de papéis com a equipa da mesa mais próxima. Tal procedimento pressupõe, obviamente, um nível de respeito e educação cívica entre jogadores, facto raro entre os latinos. Mas, será que só mesmo no Reino Unido é possível haver esse “fair-play”?
Normalmente, não há dúvidas ou discussões acesas e, quando tal acontece, apela-se, finalmente, ao “quizmaster” para funcionar como “árbitro”. Deu-se o caso, por exemplo, da nossa equipa ter escrito mal o nome de um dos líderes políticos numa lista da figuras a identificar. (foto ao lado) A equipa que corrigiu o nosso registo considerou errada a grafia. Tinham uma certa razão, mas ainda assim abeirei-me do “quizmaster” e perguntei-lhe se aceitaria conceder-nos aquele ponto já que a fonética estava muito próxima da resposta correcta. E, sem qualquer problema, disse que aceitava. Pelo que, à mão e à sua frente, acrescentamos mais um ponto que, no fim, veio a revelar-se decisivo para a nossa qualificação: terceiro lugar com direito a três libras de prémio monetário.

Há “quizmasters” que optam por ler as respostas no fim de cada grupo de 10 perguntas – excepto o das figuras, que são entregues no início do jogo e podem estar em cima da mesa até ao fim e serão as últimas a serem corrigidas -, como há quem opte por dar as respostas todas no fim das perguntas.

Uma vez somados os resultados dos vários quadros de respostas e conhecida a pontuação total de cada equipa, o “quizmaster” também não perde tempo a ir pelas mesas recolher os papéis e colocar por ordem a qualificação. Ele atira logo para cima e pergunta quantas equipas é que tiveram uma pontuação igual ou superior a, por exemplo, 40 pontos. Espera então que essas equipas coloquem a mão e respectiva folha de respostas no ar e vai buscá-las. Ou manda alguém da equipa ir ter com ele. Depende da vontade física… Assim, o “quizmaster” não perde tempo com as respostas das equipas abaixo do direito aos prémios. Pode ser desmotivador e deselegante para com as mais fracas, pois nem sequer ouvem o nome da sua equipa ser pronunciado na sala. No entanto, permite-lhes o legítimo direito ao anonimato - excepto, entenda-se, da equipa que lhes corrigiu as respostas e sabe bem as calinadas que deram ou as perguntas que deixaram em branco. (foto ao lado)

Há ainda perguntas extras. Por exemplo, o dono do “pub” pode fazer uma única pergunta que será respondida numa pequena folha elaborada para o efeito. Normalmente, é feita uma pergunta cuja resposta é uma data. Ganha a equipa que acertar ou que se aproximar mais da resposta certa e o prémio é uma rodada para a mesa vencedora. Há ainda quem faça a pergunta de “Jackpot”. Trata-se de uma questão difícil, com um prémio pecuniário elevado. Se ninguém acertar, esse prémio acumula para semana seguinte. No dia em que fui, o prémio valia cerca de 170 libras e a pergunta era que música com duração superior a 4 minutos foi a primeira a atingir o primeiro lugar no Top Britânico. Ninguém acertou.

Outra pequena particularidade que presenciei foi a introdução de um “Jocker”, embora isso não esteja previsto num jogo padrão. A equipa anuncia antes da ronda de 10 perguntas que, num determinado tema, quer usar o “Jocker” e assim tem a possibilidade de dobrar o resultado que obtiver nessa ronda.

Por 50 cêntimos opcionais no momento da inscrição – que custa normalmente uma libra – podemos ter ainda direito a pedir uma pista ao “quizmaster” para uma dúvida numa resposta.

Em casos de empate, são chamados ao “quizmaster” um elemento de cada equipa e é colocada uma única pergunta aos representantes das equipas empatadas. Ganha o primeiro que responder correctamente.

Há ainda uma prova musical, destinada apenas às equipas que não receberam prémios pecuniários e que consiste na habitual identificação de banda/cantor e nome da canção.

Não assisti a nenhuma cena de discussão entre equipas ou com o “quizmaster”, embora nem tudo seja perfeito. Contudo, fiquei a saber de um caso que começou numa inocente noite de Quiz, envolveu uma discussão quanto à resposta correcta da pergunta do “Jackpot”, espalhou-se depois em discussões na Internet e deu origem a um dispendioso caso em tribunal… ao menos nisso, nós ainda não chegámos a tanto! http://www.independent.co.uk/news/uk/crime/lawyers-hit-jackpot-in-the-pub-quiz-row-that-will-be-settled-in-court-547468.html

Despeço-me desejando boas noites de Quiz para todos e lamentando o facto de não poder estar no jogo da Cascata de Setembro. Mas, em Outubro espero estar de volta em pleno! Abraços



Frederico Duarte Carvalho

(Foto tirada por mim em Janeiro, na primeira jornada deste ano. Espero que não te importes que a publique!)